quarta-feira, 28 de maio de 2014

Parem a Palavra!

E se,
os nossos corpos deixassem de percorrer
os diversos caminhos
na frenesi da vida cotidiana
embalados ao som de máquina
e passassem a esquecer da velocidade
substituindo cada quilometro rodado
por palavras poéticas.
Talvez,
os nossos pés calejados
passariam a sentir em suas veias
rimas ao invés de dor.
Deixaríamos o metro, o segundo, o  passado e o presente
se perderem
Quem explodiria no caminho
seria o som
O som dos sentimentos trazidos
pela ginga dos versos encantados
Não seríamos
mais velhos ou jovens
Não ousaríamos dizer
ontem ou amanhã
Somente parados, estagnados
perdidos na curva da linha
do tempo e espaço
acharíamos o que realmente importa
Que a visão ganhasse
o seu único propósito:
A luz capturada no olhar
dizendo

Amor.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Couro no asfalto

Murilim corre corre que não para. A rua é asfaltada, mas é tanta terra vinda das outras que não são, que a rua em que Murilim corre, parece mais estrada de chão. Passa por tudo sem se aperceber, os motoristas irados buzinam para ele vindo na contramão. O povo do comércio olha admirado, porque aquele negrinho, baixinho corre tanto, parecendo que nem sabe para onde vai.
Para na quitanda do seu Chico, aquela da parede amarela tinta descascada, tem de tudo por lá, só não tem luz, eita lugarzinho escuro.
- Seu Chico?
- Que foi menino?
- Minha mãe pediu pra eu pegar um saco de macarrão, uma lata de extrato de tomate e um suco Maguari. Aí ela falou que é pra anotar tudo no cadernin.
- Mas de novo? Escuta aqui Murilim, fala lá pra sua mãe que essa é a última vez que eu vou fazer fiado pro cêis, depois não quero nem saber.
- Tá bom seu Chico, mas vê esses trem aí logo que eu não tenho nada com isso não. Vamo que se eu não andar de pressa, ela ranca meu coro.
- Ê muleque, fala assim de novo, que eu só não te vendo nada, que ainda te dou uma peia que vai fartar couro nesse tiquinho de gente aí seu.
Pegou as coisas e jogou pra cima do muleque, ele ligeiro que só, agarrou tudo no ar e aí correria começou de novo. Mas mal saiu levantando poeira já topou com dona Carolina, bola grande redonda de senhora. Usava um vestido laranja com umas bananas estampadas, como que ele não viu aquilo ali?
Murilim caiu sentado no asfalto, o choro principiou primeiro que a dor.
- HUMMMMNNNNNNN BUUUÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁ.
Macarrão para um lado, extrato de tomate para o outro, suco esparramado e criança empoeirada berrando no meio e dona Carolina estava assustada, com uns olhões arregalados, morrendo de vergonha dos outros na rua, sem saber o que fazer naquela situação.
- Ô menino, para com isso. Agorinha vai começar a chegar gente aqui em volta e eu não quero isso. Para de chorar que eu te dou um doce.
E cachorro rejeita linguiça? Num pulo o menino já estava de pé, a vermelhidão dos olhos foi substituída por um brilho inexplicável, parecia que ele já sentia o sabor do doce pelos próprios olhos. A língua do moleque ficou invejosa, perdera sua função.
- E que doce a senhora vai me dar, dona Caroca?
- Toma esse trocado aqui, vai ali de novo na quitanda e compra um pé de moleque pra você. E não me chama de Caroca não, se não, no lugar do doce vou é te dar um safanão.
Nem o sol piscou e Murilim já estava dentro da quitanda.
- Seu Chico! seu Chico! seu Chico!
- Ô minha nossa senhora, que que foi menino desinsofrido?
- Vê um pé de moleque pra mim e dos mais gostosos que tiver.
Jogou então os trocados no balcão e ficou esperando que nem gato quando espia passarinho de baixo da árvore.
- Ara menino e onde foi que você arrumou esse dinheiro pra comprar doce, até agorinha acabei de fazer fiado pro cê e pra sua mãe.
- Uai seu Chico, o senhor gosta é de dinheiro ou gosta é de conversar? Vê logo esse doce pra mim, que minha barriga já tá é roncando de fome. Foi dona Caroca que me deu.
- Ô menino desaforado. Êta veia besta, fica dando dinheiro pra esse muleque, depois que acostuma quero ver o que ela vai fazer (falou essa última frase baixinho, que era para o menino não ir fofocar para a senhora).
Pegou o doce e jogou no moleque, dessa vez pegou em cheio na moleira dele, os reflexos não deram, talvez a felicidade fosse tamanha que o deixou meio lerdo.
- Aiai seu Chico, faz isso não que dói muito.
- Anda menino, vai embora daqui que já não guento mais olhar pra essa cara feia sua.
Catou o doce e saiu em disparada de novo. Era poeira, lambreca na boca, sorriso nos dentes, tudo misturado na correria de volta para casa. Chegou em casa, o doce já tinha acabado. A casa sem reboco, só chapiscada, só tinha uma entrada que era da cozinha. A água no fogãozinho esmaltado branco de quatro bocas, soltava fumaça que soltava, a mãe ali na beira, com as mãos escoradas nas cadeiras esperando o menino chegar.
Murilim passou vazado direto, chegou correndo, chinelo para o ar e pulo certeiro no sofá, era hora de desenho na TV que ela gostava de dar gaitada.
- Murilo Candido de Souza, cadê o macarrão e o extrato que eu pedi pra você comprar?
Menino preto ficou branco, era gelo só dentro da barriga, tudo revirava ali por dentro. Lembrou que quando foi comprar o doce, deixou tudo jogado na rua e esqueceu de pegar de volta. O jeito era sair correndo para buscar, mas e se não estivesse mais lá. E se algum mequetrefe na rua tivesse achado e nessas horas já estava com a pança cheia? Ô vida triste, o vida danada pensou o menino, alegria de pobre, menino, preto dura do tamanho que Murilim era.
Ele chegou arrastando pé na cozinha, de cabeça baixa e com os braços e as mãos cruzadas nas costas, nem sabia o que iria ser, só sabia que o coro ia arder.
- Mãe, eu me esqueci das coisas, a senhora perdoa eu?
- COMO QUE ESQUECEU, MENINO DESGRAÇADO! EU TE MANDEI LÁ SÓ PRA COMPRAR ESSES TREM. AGORA SEU PAI VAI CHEGAR E O ALMOÇO NÃO VAI TA PRONTO. ELE VAI ME TORRAR A PACIÊNCIA, VOU FALAR QUE A CULPA FOI SUA.
- Não mãe, não mãe, conta pro pai não que ele vai me matar de tanto bater!
- Mas é isso que você merece mesmo seu desgramento.
- Mãe, eu volto lá rapidim e pego as coisas e volto mais depressa ainda.
- Então vai, some daqui, se não, esquento seu lombo.
Agora, tudo era só poeira, não existia nem mais menino, chegando ao local procurou para todo lado as coisas e não achou nada. Era tristeza só, se voltasse pra casa tava lascado, se demorasse muito tava lascado, se pedisse fiado na quitanda tava lascado, queria cavar um buraco e de lá não sair nunca mais.
Murilim sentado na calçada chorando sufocado com a cabeça entre as pernas, nisso passou um mendigo mais manguaçado do que gambá, tentando equilibrar na sua corda bamba imaginária.
- Ei menino, tá chorando por causa de quê?
Sem resposta.
- O fi duma rapariga, que que foi?
Sem resposta.

Não andou nem mais duas quadras, quis beber e viu que sua cachaça tinha acabado. Parou, olhou para as pessoas que passavam apressadas por ele na calçada, lembrou que tinha fome. 

segunda-feira, 12 de maio de 2014

UBERLÂNDIA

1964   
eu desenvolvo E SOU MODERNO!
1966
eu desenVOLVO E SOU MODERNO!
1968
EU DESENVOLVO E SOU MODERNO!
1970
EU DESENVOLVO E SOU MODErno!
1972
EU DESENVOLVO E Sou moderno!
1974
EU DESENVOLVO e sou moderno!
1978
EU DESENVolvo e sou moderno!
1982
EU DESenvolvo e sou moderno!
1985
Eu desenvolvo e sou moderno
...
Atualmente
eu desenvolvo e sou moderNO