sexta-feira, 4 de julho de 2014

#vai sem título mesmo#

A única coisa que posso fazer é escrever. um mero esquecimento, um simples esquecimento e sobrou isso. Um erro na mão e a fonte sobe automaticamente.. automaticamente, que palavra robusta, difícil. ahhhhhhhhh
tenho a certeza que continuo errando noite a após noite. É olhar em volta e gritar para um velho gagá:
- ELES ESTÃO TODOS PERDIDOS!! ESSA JUVENTUDE ESTÁ TODO PERDIDA. OLHA SÓ. TÁ TODO MUNDO CASANDO, TODO MUNDO CONVERSA ALTO DEMAIS, TANTO É QUE GRITO PRA VOCÊ VELHINHO.
Ele de cabeça baixa, me responde:
- Vira e meche eles caem na monogamia.
Meu Deus! nessa hora o desespero tomou  conta de mim, bati a mão na parede alaranjada, dei um chute na porta e saí correndo do bar, sem pagar mesmo, saí a la escocesa, não é assim que dizem?
ainda correndo, duas esquinas pra baixo, tropecei num grande cachorro amarelo, ele tinha o rabo cortado, mas em compensação o que perdeu atrás ganhou no tamanho da língua.
rolei uns bons metros na rua, a roupa ficou cheio de terra e meu amigo cachorro amarelão não esqueceu da minha figura. veio fuçando em mim, deu com a língua em minha nuca e falou baixinho em minha orelha:
De ti
só quero troça
pois toda essa joça
jaz
na podridão

Dei um grande salto e me pus de pé. Ora bolas, afinal de contas o que era aquilo? Aquele grande cachorro amarelo estava zombando, em plena três e quarenta e sete da manhã?
- Escute aqui meu amigo, esses seus versinhos não surtem efeito. Prefiro muito mais um axé, um pagodão dos bons, tá me entendo? Já ouviu aquele da loirinha que escorrega no quiabo?
Amarelão bateu asas correndo pela rua. Foi a última vez que o vi. Bem te vi, bem te vi, tocava as badaladas em minha cabeça, agora que só caminhava, tinha certeza que estava no caminho errado. Mas por onde andar? Em todos os lugares bacanas eu era considerado um estranho, era sentar e ser ignorado ou logo começava a receber os olhares fuzilantes.
Lá pelas tantas não sei se foi o vento que me levou ou se toda rua transformou-se numa grande esteira produtiva, estava de frente daquele casa roxa. Lembrei de um poema de um velho mortificado.

Naquela casa, as paredes são tortas
lilás escorre das veias
entre as portas
passam as sombras de meu coração

Poxa vida, que velho safado pensei. Levou mesmo uma vida bacana, melhor talvez do que a vida do velho gagá, meu amigo de bar que só conversava de cabeça baixa comigo. O desgraçado deve ter acertado o caminho, ao menos uma mulher bonitona que vai morrendo com o tempo, como será que eles se olham lá pelos oitenta anos? Fartura tinha na geladeira dele, disso eu sei, roubei até uma fatia de queijo fresco.
Mas enfim, não importa, o que importa é que estava lá. de frente para a casa lilás, roxa. Bati forte na porta, um belo dum soco e berrava a plenos pulmões, aquilo sim o ministério da saúde deveria recomendar
- DEIXE-ME ENTRAR, TENHO SEDE, MUITA SEDE. POSSO ATÉ MATAR CASO NÃO BEBA UM BOM GOLE D’ÁGUA.


Nada. o vento soprava lá no fundo rindo de mim, já estava me irritando com aquele danado, toda vez era assim quando me jogavam na indiferença. Ai que negócio difícil. muito difícil
Desta vez, resolvi dar uns pontapés na porta, doeu muito também, errei a pontaria e acertei o mindinho, mas que se dane.
- ESCUTA AQUI, JÁ ME ROUBARAM TUDO ATÉ AS EXPRESSÕES MAIS SOFRIDAS. DEIXE-ME ENTRA POR FAVOR!!
A porta desapareceu, restou o buraco do portal revelando a escuridão da casa. Pura magia hahaha entrei sem pestanejar. Pois bem meus queridos, podem ascender a luz. Bati umas boas palmas e tudo se clareou em minha vida, respirei aliviado pela primeira vez nessa história.
O mordomo se aconchegou perto de mim em sua bela cadeira de rodas dourada.
- Afinal, o que o senhor deseja?
- Bem, primeiro me veja, duas xícaras de leite, quero pão mandi, muitos pães, passem neles um boa manteiga, mas anota aí, tem que ser manteiga, não me venha com margarina. Sabe aquela geleia de amora? Passa no alface, enrola e prende tudo com palito de dente.
Ele rodou com suas mãos delicadas aquelas belas rodas douradas e com certeza foi efetivar meu pedido.
- MARGARIDA, MARGARIDA MINHA FILHA, VEM PRA CÁ, VEM.
Margarida era flor perigosa, só de ver dava medo, de vestido colado derrubava mil, de palavra na boca, ganhava a nação.

aiai

- MEU SENHOR, ESCUTA BEM O QUE TO TE DIZENDO.. OLHA PRA ESSA FESTA, TÁ TUDO PERDIDO.
Ele batia nas minhas costas, entendia bem todo aquele sentimento, talvez tivesse errado todas as noites da sua vida também.
- Meu filho escuta bem, os gênios têm a chave do tempo. Sei bem disso, meu erro foi o ano que decidi voltar. Fui ambicioso de mais, estava com quarenta anos e voltei pra quando tinha dez anos de idade. Tava na praça, a meninada toda brincando de safadeza, foi a primeira garotinha que beijei. Lembrava de tudo, tava num corpo de dez e com uma mente de quarenta, mas sabia das artes do amor. Dei um beijo nela que a tal ficou doida. Era crescidinha, maior que todas outras, não deu duas semanas já estávamos na coisa. Perdi então minha virgindade com dez anos, antes foi apenas com dezoito. Ha, mas viver a infância tudo de novo, meu grande erro, meus pais naquela época, tão crianças quanto. Um dia não aguentei e disse umas boas pra eles, usei da grande filosofia, meu pai chorou de soluçar. Não aguentei, foi foda, minha vida toda ficou muito mais fudida.
Abracei aquele velho gagá e choramos no bar. Finalmente silencio naquela birosca, todos nos olhando, berramos eu e o velho, berramos fundo, liberdade:
- EIS AQUI TODOS VOCÊS. APRESENTAMOS MARGARIDA, A MAIS BELA E FORMOSA DÚVIDA NA VIDA. BESTAS ATROSES, SABEM QUE ESTÃO CORRENDO PRA TRÁS. BAIXEM TODAS AS CABEÇAS QUE ESSE VELHO MEU AMIGO É MELHOR QUE TODOS. UM GÊNIO, UM SANTO GÊNIO, COMETEU APENAS UM ERRO, QUIS BEBER TODA A FONTE DE UMA VEZ SÓ. MAS SABE MAIS, MUITO MAIS, PEQUENOS INTELECTUAIS DE MERDA. AGORA, SÓ RESTA UMA ATITUDE A TOMAR, COMECEM A URRAR BEM ALTO, QUE O LOBO FAMINTO CONSUMA CADA CENTÍMETRO PEQUENO DA PODRE GOTA QUE É A VIDA DE VOCÊS.
eram gargalhadas, gargalhadas.. gargalhadas.. eu e o velho agora éramos dois cachorros, amarelo e roxo, morávamos na casa do teto do céu, uivando e fazendo cair estrelas.


quinta-feira, 3 de julho de 2014

Pedaço empoeirado

Triste cena aquela
onde caía cada pedaço
e a dor que crescia em mim
soava como tristes e agudos acordes

Triste cena aquela
espetáculo da miséria
da esmola esfarrapada
              do suplício humano
de cana ardendo nas veias

a malandragem desgastada
e o pequeno a esperar
              com minhas lágrimas ausentes

peito bobo o meu que pensa nisso
feito bobo mesmo
Eu ou ele?

De sábio ali
somente a criança
com suas pequenas mãozinhas
a recolher os tais pedaços

meus pedaços

Maldito!

disse
ao céu rosado
este mesmo céu
que turva menos minha visão

MINHA VISÃO

do que o último e recolhido
pedaço

empoeirado.